Os algoritmos e os robôs jornalistas
No ano passado, quando estava na SXSW, um megaevento sobre conectividade, música, cinema e educação, em Austin, Texas, vi uma passeata contra robôs. Pediam menos robôs e mais pessoas nos negócios. Agora fico sabendo pelo sueco Mikael Ahlström, CEO da Hyper Island, uma escola e consultoria de aceleração digital, que na Suécia já existem robôs escrevendo a previsão do tempo e narrativas de esportes. E ele prevê que mesmo em outras áreas será possível um robô produzir uma narrativa. Com a enorme quantidade de informações disponíveis, um robô poderá ler os dados e escrever. No esporte, podem fazer o resumo dos resultados da rodada. Fatos policiais podem ser descritos: fulano atacou sicrano pelas costas, com tantas facadas, e está preso na delegacia tal. Na Suécia alguns jornais já têm robôs-jornalistas para tarefas simples. Os algoritmos buscam e organizam esses dados, identificam oportunidades, formam grupos e tribos e facilitam o trabalho de muita gente. Vão trabalhar para os humanos. Sugerir e programar nossas próximas férias, escolher o local, reservar hotel, comprar nossas passagens, indicar e comprar passeios, marcar restaurantes, escolher o que vamos comer. E pagar. Tudo isso sem termos pedido, mas a partir da análise de hábitos nossos e de manifestações de vontade, que expressamos nas redes. Em quase todas as atividades, algoritmos e robôs já estão em pleno trabalho.
As máquinas estão aprendendo umas com as outras, numa progressão geométrica e jamais imaginada. Fascinante e assustador. Vão acabar com o trabalho de muita gente. Mas não vão conseguir acabar com a criação, a dúvida, a inquietação, o medo, a ousadia, a paixão, a singularidade que nos diferenciam no fazer cotidiano. Que os robôs facilitem o trabalho repetitivo do homem, sim. Analisar, refletir, escrever e decidir para onde vai e como vai é uma atribuição de cada cidadão que se recusa a ser comandado sem interferir no processo. É uma prerrogativa de quem pensa. E robôs não pensam! Pelo menos, por enquanto.
Alfredo Fedrizzi é jornalista, publicitário e diretor da Escala Propaganda.
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