“Tomara que caia” a nossa ficha, isso sim!
Por Priscila Stoliar, Gerência De Marketing do SBT
Este ano senti que a discussão em torno do Dia Internacional das Mulheres teve uma evolução nas empresas, principalmente puxada pelas próprias mulheres, que passaram a expor mais a questão, os números, as discrepâncias, endereçar melhor os problemas e até a assumir mais a questão da sororidade, que era algo mais velado entre nós. Que bom! As próprias empresas, entendendo melhor a oportunidade, também passaram a promover mais o tema, mesmo que muitas vezes de maneira “marketeira”. Que bom também! Afinal, temos que ter um ponto de partida, mesmo que com delay. Mas ainda estamos longe da configuração ideal, a tão sonhada equidade.
Existe uma distinção absurda entre os gêneros, que deve ser respeitada e melhor aproveitada. O “fator mulher” é o que muitas vezes faz a gente equilibrar tantos pratos ao mesmo tempo com excelência, mas também o que nos oprime tanto por nos deixar sobrecarregadas e, o pior, ainda não ter a remuneração, cargo e benefícios devidos, dentro de culturas corporativas ainda tão patriarcais e machistas.
E “tomara que caia” a nossa ficha, porque trocar o nome da roupa não vai nos ajudar a ganhar o jogo, muito pelo contrário. Nada contra a campanha – de uma marca brasileira muito democrática e que inclusive gosto -, acho maravilhoso ver as marcas dando força ao movimento da diversidade. As marcas são personas, tem voz, atitude, são ouvidas pelo consumidor, mas nesse caso não é sobre isso, a reflexão vai muito além.
As mulheres são maioria da população no Brasil. Vivem mais tempo, têm mais educação formal. No entanto, o número de mulheres desempregadas é 29% maior que o de homens. E quando falamos das posições de liderança, embora a porcentagem de mulheres CEOs no Brasil tenha crescido de 5% em 2015 para 16% em 2017, elas ainda representam apenas 2,8% dos cargos mais altos. É sobre isso que estou falando, o “buraco” de fato é bem mais embaixo.
Precisamos aproveitar que a água bateu na bunda e os holofotes estão virados para nós para fazer a sociedade enxergar em profundidade a nossa maneira de ver e desejo de nos expor ao mundo. E que junto com isso, a gente ganhe espaços nas lideranças de empresas, do marketing e da criação, sem que isso nos modifique. Sim, é chegar lá sem nos obrigarmos a falar grosso ou assassinarmos o sonho de nos tornarmos mães – que, a propósito, nos torna líderes ainda mais fortes. Afinal, ser sensível e multifacetada estão em nossa lista de qualidades e deveriam ser exploradas e recompensadas devidamente.
Se o argumento da equidade e justiça não forem suficientes para isso avançar, que então pelo menos o mundo corporativo passe a entender melhor que mais de 80% do poder de compra neste país está nas nossas mãos.
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