Home Office: use com moderação
Por Antoninho Rossini – jornalista, bacharel em direito e administrador de empresas.
O covid 19 continua fazendo vítimas mundo afora. Ainda não há vacina eficaz para erradicar suas consequências porque pegou a humanidade de surpresa. Infectologistas, pesquisadores e laboratórios de vários países estão investindo tempo e bilhões de dólares na busca de vacina para cura desse mal, que colocou o planeta em alerta. A decretação da pandemia, com isolamento social provocou um fenômeno comportamental assustador – manter-se vivo e em atividade produtiva tornou-se um jogo perigoso.
Esse fenômeno acabou por acelerar a tecnologia da informação e a inteligência artificial, que já vinham conquistando espaço de forma impositiva sem retorno. Empresas buscaram soluções por meio das mídias digitais para sobreviver. Outra atividade em desenvolvimento acelerado é o trabalho à distância, mesmo que, em muitos casos, de forma empírica. O home office, tornou-se a bola da vez, mantendo profissionais isolados e trabalhando em lugares antes inimagináveis. Residências de praias, condomínios ou mesmo em minúsculos apartamentos, abrigam legiões de pessoas agarrando-se aos avanços dos meios digitais, sobrevivendo as agruras destes tempos. Definitivamente o mundo já não é o mesmo e nem o será de agora em diante.
Neste momento há necessidade de reflexões visto que, como as vacinas contra o vírus, que precisam superar testes em fases 1,2,3, etc para depois serem aplicadas com eficiência, algumas atividades ainda não se sustentam por meio digital. Precisam ser testadas cada qual em suas fases. Dentre muitas, a publicitária, que por mais que se diga que não, necessita de sensibilidade e energia só possíveis com o calor humano para ser de realizar por completo. Esse é um teste de fogo. Afinal, como criar uma campanha criativa de resultados para anunciante se não existir o contato do “olho no olho”? Ou discutir peças e campanhas que necessitam de feeling (esta palavra, pelo visto sairá de moda) só possível no contato entre pessoas?
Há tabus quando se aborda esse tema publicamente. Muitos profissionais da área receiam que, se discordarem da tecnologia da informação nos tempos presentes sejam considerados “fora da realidade” ou então ridicularizados. Nem todos concordaram, mas os que são a favor desta reflexão pediram para não terem seus nomes citados. Suas posições foram respeitadas, mas não há como omitir comentários sobre o tema. Um deles, quando consultado sobre criar ou discutir campanhas publicitárias por meio virtual, deu a seguinte resposta sardônica: “você está absolutamente certo. É um desafio ainda não superado”.
Outro criativo que comandou agências multinacionais vivendo boa parte no exterior e que hoje dirige sua agencia em Goiânia desabafou: “Esse tema é real e oportuno. Aproveito para alertar os detentores de grandes marcas para que prestem atenção nos seus negócios. Há marcas que estão se esvaindo dos seus propósitos por falta de visão nas suas estratégias de comunicação. Qual é o nível de retenção de uma campanha nas redes sociais, criadas virtualmente? Estar presente nas redes é importante, mas falta muito ainda para completar aquilo que a publicidade faz pelas marcas e pelos produtos. Eles estão enxergando apenas custos reduzidos”.
Dias atrás tive contato com um criativo de uma importante agência de São Paulo que passava férias com sua esposa e filho em Santa Catarina. A pandemia o pegou nas areias macias da praia. Desde então não retornou a São Paulo e recebeu ordem para permanecer por lá, tomar fôlego e começar a criar campanhas, cujos briefings dos clientes lhe seriam transmitidos via zoom.
É saudável destacar que os tempos modernos, paralelamente à pandemia, estão trazendo a holografia como ferramental de comunicação. Pelos cálculos de futurólogos e pesquisadores, a holografia, que reproduz seres quase humanos para, entre outras coisas, vender serviços e produtos ainda está em fase inicial. Já há alguns ensaios da holografia na publicidade.
Não há aqui rebeldia contra as normas exigidas pelas autoridades sanitárias em relação à pandemia. São sérias e preservam vidas, mas os dirigentes das agências não estão querendo enxergar as possibilidades de verem suas portas abertas. Seriam limitações impostas por polices dos grandes grupos internacionais? Se Bares, restaurantes, instituições bancárias, supermercados e salões de beleza encontraram solução dentro das regras da legislação, por que as agências não se movimentam também? Nada proíbe as agências de retomarem às suas atividades dentro de limites e protocolos. Ainda vale lembrar que muitas delas estão adotando o sistema de hub para não perder as rédeas junto aos seus colaboradores. A Iniciativa é meritória mais não representa tudo – nem tão pouco oferecer computadores e canais de internet free para o trabalho remoto. A legislação trabalhista ainda carece de muitos ajustes para dar legalidade eficaz ao trabalho à distância. O importante é repetir que o mundo pós pandemia não será mais o mesmo. Temos que nos ajustar à essa realidade, mas com moderação. Home Office vale muito, mas não vale tudo.
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