O que as marcas podem aprender com a polêmica do ‘cancelamento’ no BBB
Por Pâmela Rosa (*)
O Big Brother está em alta. Nos últimos anos, o programa tem ganhado mais espaço nas rodas de discussão, como forma de fomentar debates e análises de comportamento humano. Racismo e feminismo, por exemplo, foram temas nas últimas edições, trazendo várias argumentações para a mesa. Neste ano, as polêmicas não ficaram de fora e, logo na primeira semana, o “cancelamento” já foi uma preocupação dos participantes e gerou uma série de reações do público.
Muitos nomes explodiram e foram de mocinhos a vilões em questão de horas, perdendo, em alguns dias, milhares de seguidores nas redes sociais. Poucos brasileiros se mantiveram isentos de fortes comentários sobre o comportamento dos participantes. Mas o cancelamento não se deu apenas pelo público externo. Internamente, muitos participantes estão tomando o lado dos “canceladores”, julgando as atitudes dos colegas de confinamento.
O fato é que este está sendo um BBB para aprendermos mais sobre os impactos que já estamos sofrendo da cultura do “cancelamento” na nossa sociedade. O mundo digital nos acelerou e instigou a seguir o mesmo ritmo nas nossas relações: quando algo acontece muito rapidamente, já temos uma reação. Isso fez a gente não ter mais tempo de pensar sobre o assunto antes de reagir, nos fazendo agir com as nossas emoções mais primárias. Escutamos e já falamos, ou seja, não temos mais tempo para pensar.
As marcas seguiram o mesmo comportamento. Conforme polêmicas foram surgindo na casa, contratos e projetos foram, aos poucos, cancelados. Ter alguns nomes “linchados” na internet fez com que muitas marcas recuassem o mais rapidamente possível para não terem seus nomes vinculados a polêmicas que não estão alinhadas aos valores da empresa.
Por outro lado, os atuais patrocinadores desta edição também estão sendo cobrados por apoiarem um formato de programa e um elenco que estão sendo julgados por pressões psicológicas e comportamentos nocivos, além de levarem para sua comunicação digital conteúdos que transformam comportamentos de ódio em memes, assim apoiando o cancelamento diante das situações.
A pergunta que fica é: qual a responsabilidade das marcas nisso tudo? Será que, ao apenas reproduzir e, de certa forma, apoiar o cancelamento, as marcas não estão reproduzindo um comportamento cancelador? Será que, antes de sair da discussão, não deveríamos abrir espaço para debater junto ao público o que o comportamento significa socialmente e por que tal comportamento não é agregador?
As marcas precisam assumir suas responsabilidades de articuladoras de conversas, com investimentos em vozes especializadas para articular sobre suas bandeiras, pois a agressividade em punir o que julgamos como erro diminui o espaço para mudança e alimenta um cenário muito nocivo. Talvez diante deste cenário, o que precisamos é mais diálogo e menos ação, criando, por exemplo, canais como salas, lives e palestras, para debater os temas, tendo profissionais como mediadores para entender a complexidade das ações por trás de cada comportamento. Assim, não reproduzimos um discurso raso, mas sim um cenário para entender cada situação e trazer debates, escutando e ponderando. Precisamos, enquanto marcas, pensar na nossa responsabilidade como agente de mudança social e nas formas de utilizar nosso espaço mais como voz do que como repulsa.
(*) Pâmela Rosa é sócia e diretora de criação da agência Batuca, mestre em design pelo PGDesign-UFRGS (2018) e possui graduação em Design pela Universidade de Caxias do Sul (UCS) (2016). Tem também formação de nível técnico em Programação Visual pelo Instituto Federal de Educação Ciências e Tecnologia Sul-Rio-Grandense (2010).
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