Quantos países cabem no Brasil? A Transformação Digital pelo ângulo da inclusão
No mundo dos negócios, uma coisa já ficou clara: empresas que não passarem pela Transformação Digital não vão conseguir sobreviver. Será?
Uma pesquisa feita pela KPMG aponta que mais de 50% dos principais executivos brasileiros devem investir em Tecnologia para compra de equipamentos e treinamento de equipes. A pandemia acelerou a Transformação Digital nessas empresas, apresentando muitos cenários que antes se esboçavam apenas como tendência.
A Transformação Digital chegou também às MPEs, de acordo com o Sebrae, que afirma que a proporção de empresas com página na internet mais do que dobrou, passando de 11% para 27%, e 73% de empresas que fazem negócios pelo whatsapp dizem que ampliaram o número de vendas durante a pandemia.
Mesmo com tantos números positivos, alguns empresários ainda resistem em adotar o digital em suas empresas. Por quê?
A resposta está diretamente ligada à inclusão digital e a pandemia escancarou ainda mais a disparidade existente em nosso país. Enquanto muitos negócios até prosperaram durante o último ano, algumas empresas não conseguiram sobreviver, e nem foi por falta de investimento em processos ou equipamentos.
A questão é que a desigualdade digital exclui os clientes de empresas totalmente digitais. No último domingo, 22/3, a Folha de São Paulo publicou uma matéria sobre a crise no comércio do Nordeste, exatamente por causa dessa desigualdade.
O caso de um comerciante dono de uma rede de lojas de sapatos é ilustrativo. Seu negócio está fincado num modelo analógico: o comprador escolhe o produto dentro da loja e pode parcelar o pagamento por carnê, que também deve ser pago presencialmente, dentro da loja. Isso estimula a próxima compra, que acontece quando o cliente paga suas parcelas. Esse modelo de negócios existe nessa rede de lojas há 94 anos.
Com certeza essa empresa pode se atualizar, criar um e-commerce e comercializar sapatos pela internet. Há um enorme custo embutido que é preciso estar disposto a pagar: investimentos em um novo modelo de negócios, treinamento de funcionários, marketing digital. Toda uma nova realidade que não se estabelece da noite para o dia, mas que será fundamental para sobreviver em tempos de distanciamento social.
Nossa desigualdade se faz presente a cada instante
Minha pergunta é: e os clientes? E aquela pessoa que simplesmente não tem acesso à internet, ou que não domina as novas tecnologias ou que não confia o suficiente para fazer uma compra? E quem não tem conta em banco, cartão de crédito e não sabe como pagar um boleto?
Claro, sempre vai haver um sobrinho, um vizinho ou um amigo para ajudar a fazer um pagamento no ambiente digital, e até mesmo fazer uma compra. Mas pense, se uma compra é emocional, como essa pessoa será atingida?
A conquista de ir até uma vitrine, escolher um par de sapatos, entrar na loja e comprar, ainda que num ambiente virtual, não existe para o excluído digital. E mais uma vez, a exclusão acontece e reforça a desigualdade que a pandemia nos mostrou com toda a clareza.
Não tenho respostas, mas sei que elas certamente passam pela Educação e por um projeto de sociedade inclusiva.
Marta Gucciardi
Mentora e Estrategista de Negócios | Especialista em Comunicação e Cultura Organizacional | Ajudo empresas a definir seu propósito e posicionamento para engajar colaboradores e clientes | Diretora de Marketing da Abmen
Muito bom Marta, gosto muito, o digital deu um salto de uns 7 anos no Brasil.