Caboré 2021 reflete transformações da indústria da comunicação
Por Lucia Faria – Diretora da LF & Cia Comunicação Integrada, diretora de Capacitação da ABRACOM e diretora de Comunicação da APP Brasil
Tem algo de novo na comunicação brasileira. Pode ser observado nas campanhas publicitárias, nas agências, nas entidades e na maior premiação do setor, o Caboré. Nem sei mais dizer em quantos anos já fui na festa promovida pelo Meio & Mensagem. A primeira delas, como repórter do jornal, ainda era realizada na Hípica, em São Paulo. Depois, fui promovida a editora e acompanhei o Caboré no Monte Líbano. No Credicard Hall, onde ficou por muitos anos, eu até subi no palco como integrante do time da Editora Globo, contemplada pela revista Época. Mais tarde, já como proprietária de uma agência de Comunicação Corporativa, virei prestadora de serviço. Nisso tudo, já se vão uns 30 dos 42 anos do Prêmio Caboré.
Tudo isso para dizer com segurança que esse ano foi o Caboré mais diverso que já presenciei. Desde a lista dos indicados até a cerimônia de entrega do prêmio vimos pessoas antes restritas ao back office das empresas. O discurso de Samantha Almeida, profissional de Inovação (Rede Globo), pegou na jugular de todos nós: o esforço de sua mãe de salvar numa enchente na favela em que moravam a mochila e o uniforme da filha. Poderiam perder a casa, mas não as aulas na escola. Foi aplaudida de pé por todos completamente emocionados.
Outra premiada, Gabriela Rodrigues (agência Soko), na categoria Planejamento, escancarou a importância de ser uma preta e sapatona a escolhida pelos assinantes do Meio & Mensagem para receber o prêmio (particularmente não gosto do termo sapatona, mas ela pode e deve dizer o que quiser e como quiser a seu respeito).
Foi uma cerimônia em que pessoas pretas e gays deslumbrantes em seus paetês ocupavam o espaço ao lado de profissionais que vivem a transformação do mercado. Uma transformação tecnológica, da natureza do negócio e também cultural.
Enquanto uns correm atrás das mudanças, outros as provocam.
Dá um ânimo danado quando vemos uma diretoria totalmente preta assumir o Clube de Criação de São Paulo; o crescimento de vagas inclusivas nas empresas; a criação da Diretoria de Diversidade e Inclusão na Associação dos Profissionais de Propaganda (APP) e de Grupo de Trabalho com o mesmo propósito na Associação Brasileira das Agências de Comunicação (Abracom) – cito apenas essas duas porque estou na diretoria de ambas, mas outras seguem o mesmo caminho ; campanhas publicitárias preocupadas com diversidade; a maioria dos alunos da USP oriunda de escola pública pela primeira vez em sua história; a contratação de consultoria especializada para conduzir revisão completa a respeito desses temas no Festival de Criatividade Cannes Lions etc. etc.
Espero que chegue logo o dia em que ninguém precisará frisar que é mulher, preta/preto ou gay. Todos estarão no mesmo caldeirão, com as mesmas oportunidades, com a mesma presença, nas mesmas escolas e nas mesmas corporações. Esse dia há de chegar – só espero que não demore!
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