ARTIGO: Shopping trem
Trabalho com vendas publicitárias, então tudo que remete à comercialização me chama atenção. Se dormimos 08 horas, vendemos e compramos pelo menos 16 horas por dia, mesmo que isso não fique claro. Olhe a sua volta, lembre-se do dia de ontem, de minuto a minuto estamos negociando com alguém, seja por um objeto, uma situação, com o cônjuge, não tem como fugir.
Abandonei o automóvel há cinco anos. Meu transporte agora é o trem, especificamente o Metrô e a CPTM. Entre 10h e 17h, temos em ação o “SHOPPING TREM” — o comércio ambulante, uma realidade que existe há anos e tudo indica que seguirá existindo, fazendo parte do cotidiano paulistano.
A venda acontece de forma rápida, certeira, temos quase tudo. A turma da FGV, ESPM e até Harvard etc. deveriam entrar no vagão e ver como o jogo é jogado. De uma estação a outra o tempo médio é de 2 minutos, a venda tem que acontecer neste período. Chegando na próxima estação o tempo termina, as portas se abrem e o cliente vai embora.
Hoje mesmo, presenciei um rapaz vendendo fatiador de legumes ao vivo e a cores, depois outro oferecendo caixas de som, também uma moça vendendo paçocas e assim eles vão rodando de vagão em vagão.
O vagão mais disputado é o segundo, logo depois do carro em que tem a central de comando ou maquinista, porque já deixa o vendedor perto das escadas nas estações, caso tenha que evadir rapidamente. Em cada vagão cabem em média 350 pessoas, olha que potencial de mercado!
O melhor dia é sábado, quando, segundo os vendedores, os passageiros estão nos trens por lazer e têm mais disposição em comprar.
O vendedor do Shopping Trem deve ter um radar muito apurado. Afinal, a qualquer momento a segurança pode surgir, que é ao mesmo tempo o melhor e pior cliente. Melhor porque leva toda a produção, pior porque, claro, não paga, confisca.
Com exatidão medem com precisão o humor do vagão, dos passageiros, enfim do seu cliente. Começam a venda, sempre com uma saudação, um pedido de desculpas pela intromissão. A leitura do rosto e da intenção do comprador deve ser precisa. Vender é esbanjar simpatia, frases de impacto, gestos marcados. São muito bons no que fazem.
A tática mais conhecida para vender no Shopping Trem é colocar o produto no colo ou nas mãos dos passageiros.
Lá fora o tempo nublou, vendem capas de plástico dentro. Roupa manchou? Temos tiradores de mancha. Pernilongos em excesso? Raquetes elétricas.
Um único ambulante oferece bala Fini, chiclete Mentos e saquinho de amendoim doce, salgado e sem pele, chocolates de todas as marcas.
Eles fazem viagens curtas para não dar tempo de serem alvos de denúncias de passageiros. O vai-vém diário pode durar apenas uma estação.
Opa, a próxima estação é a Pinheiros, cheguei no meu destino, até a próxima.
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por Adão Casares
Publicitário “6.0”, Adão Casares é CCO | Chief Curiosity Officer da CAO MKT Mídia Móvel, Diretor de Comunicação da APP Brasil, copywriter, professor de mídia e sócio do PiroGeralBrecho. Tem mais de 30 anos de carreira com passagens por Leo Burnett Tailor Made, Lew`Lara, Fischer e Justus, Grey Brasil, WMcCann, AlmapBBDO e veículos de mídia.
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