Sem Logo
Por Adão Casares, publicitário, pai do Bruno e Nathália
Estes dias de aconchego compulsório, não posso negar, são bons, somos quatro humanos mais três cachorros, criamos os sete uma rotina familiar que tem sido muito amorosa, por este aspecto o bicho vírus tem sido agradável.
Gente, como tem coisa digital que facilita a vida, tudo melhorou, as reuniões, começam e acabam no horário, hh virtual e aprendendo a cozinhar, a patroa manda muito bem nos ensinamentos. Claro que, como todo mundo, espero que acabe logo esta situação, mas não dá para negar que estamos em um momento de arrumação, fundamental para que haja uma reflexão, um rearranjo da sociedade, da economia, e de nós mesmos.
Hum, e a comilança, isso é um perigo, é aplicativo disto, aplicativo daquilo, não somente de comida, do supermercado, do petshop, da farmácia, flores, infinito.
Na revista Exame de fevereiro desse ano (parece tão longe) li que o crescimento de compras em supermercados pela internet e por aplicativos atrai startups e gigantes do varejo que brigam por um mercado que só cresce. A parada ferve, o Grupo Pão de Açúcar montou uma operação própria, estimava para 2020 um crescimento de 50%. Este potencial já criou faísca lá fora, a Amazon, já vende alimentos em seu site no Brasil.
Tomei contato também com as dark kitchens, conhecidas como restaurantes fantasmas, ou ghost restaurant, um estabelecimento de serviço de alimentação que oferece apenas comida para viagem. Só existem no mundo digital, sem loja, fachada ou mesas para que clientes frequentem, sinistro.
Funciona assim: a partir da sua base de dados, os serviços de entrega de comida detectam onde existe uma grande demanda por determinado tipo de produto. O aplicativo indica o melhor local para montar a “cozinha virtual”. O mesmo espaço, inclusive, pode reunir várias cozinhas diferentes (massa, pizza, sushi, hambúrguer etc.), uma espécie de coworking das cozinhas, atendendo a um só aplicativo.
Tem um aplicativo que faz acordos com restaurantes que vendem comida por quilo. O cardápio do dia é definido previamente e, na véspera, o aplicativo encomenda ao restaurante a quantidade que será entregue, com base na demanda já agendada. Na prática, o aplicativo compra o aumento da capacidade do restaurante, a quem paga antecipado.
Bem a operação digital ajuda a conhecer melhor o cliente e fazer ofertas personalizadas, ou seja, os supermercados totalmente corretos, vão indicar promoções, pacotes que mais me interessam, enfim, não me deixam escolher mais.
Nas dark kitchens os aplicativos vão dar ordens na cozinha, pois tem o controle sobre todo o processo e negociar melhor as margens de cada etapa. A partir de então, o consumidor passou a ser do serviço de entrega, não importa quem faça a comida.
Caminhando para o fim, como fica a marca nesta história, o trabalho de branding, tudo aquilo que aprendi com meu mestre Jayme Troiano, não acrescenta mais? Nós compramos de fato o que queremos ou o que escolhem para nós? Até que ponto somos agentes da compra ou até que ponto muitas vezes nós escolhemos o que escolheram para nós?
Na minha visão, o branding tem que prevalecer. Não sei como, só sei o porquê. O branding é um relacionamento a longo prazo, cheio de idas e vindas, como uma grande história de amor, com reviravoltas, momentos maravilhosos e outros nem tanto, mas que combinados garantem naquele local premium tão buscado pelas marcas na mente do consumidor. O consumidor não é alguma coisa, mas está passando por alguma coisa e a marca tem a obrigação de acompanhá-lo nessa jornada. Uma jornada que vai muito além de margens de dados e segmentação.
Obrigado.
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