ARTIGO: A mesa, a nossa primeira rede social
Aprendi com o cozinheiro espanhol Ferran Adrià que a mesa foi a primeira rede social. Foi em refeições em família que aprendemos a interagir socialmente, compartilhar histórias, discutir ideias e fortalecer nossos laços.
Talvez a frase não seja de fato dele, mas na busca que fiz, não consegui encontrar a origem. Pouco importa, o fato é que foi em família que aprendemos a conversar. Muitas vezes o assunto era apenas alguma lembrança do passado, nossas boas conversas de família. Essas repetições de narrativas abriam espaço para todos participarem, trazendo seu olhar e ponto de vista para determinada situação.
Em casa, até os mais inibidos se soltavam, pois estavam seguros no conforto e na segurança daqueles que nos amam. Foi ali que aprendemos que as pessoas gostam de uma boa narrativa. Foi na mesa de casa que muitos descobriram sua habilidade para a comunicação.
Hoje, vivemos mais sós. Vejo gente que convive pouco com outras pessoas, vejo pessoas que almoçam na frente de computadores. A mesa já não suporta a conversa; não há espaço para diálogo, pois estamos conectados por máquinas. Há uma profusão de textos, vídeos e áudios, mas tudo intermediado por dispositivos tecnológicos.
Às vezes, me incomoda observar as pessoas em volta da mesa conversando com seus celulares ao invés de aproveitar a companhia umas das outras. Perdemos o espaço da conversa; a vida remota parece mais interessante. O estímulo de alarmes e sinais sonoros nos mantém acorrentados à rede. Penso que estamos doentes.
Estamos conversando cada vez mais com máquinas do que com pessoas. Eu não gosto de mensagens de áudio; podem continuar me mandando, mas não gosto. Parte da minha birra com este modelo de comunicação é que vejo pessoas trocando áudios quando poderiam simplesmente falar ao telefone.
Só pelo timbre da voz de meu melhor amigo consigo dizer se ele está feliz, mas no texto todos parecem felizes. Nas postagens, podemos ver muitas curtidas, mas cada vez menos troca.
Em volta da mesa, éramos ensinados; foi ali que aprendemos sobre nossas famílias, sobre nossos pais. Foi na mesa com colegas que descobri amigos para a vida. Eu adoraria voltar no tempo para participar novamente de encontros memoráveis, para rir por duas horas e reviver momentos inesquecíveis.
Não, eu não sou um saudosista que quer o fim da tecnologia. Eu sou, de fato, alguém que se preocupa ao ver tanta gente doente. Vivemos uma epidemia de solidão, e este velho homem aqui pensa que a conversa em torno da mesa pode nos trazer mais companhia, amizade, alegria e muitas coisas boas.
Desconecte-se quando puder! Convide amigos para jantar e, se possível, tire os celulares da mesa. Volte a descobrir o prazer de uma boa conversa. Redescubra a mesa, a primeira rede social da nossa vida.
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por Regi Andrade
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