Social Media é coisa para profissionais. Não para sobrinhos.
Por Marcelo Sant’Iago*
“Isso mostra que você não entende nada de social media e nem de Facebook” me disse outro dia uma pessoa, após eu comentar que determinado artigo era uma das maiores bobagens que li nos últimos tempos.
Não. Não, entendo mesmo.
O fato de eu ter algumas centenas de amigos no Facebook, o mesmo volume de contatos no LinkedIn e pouco mais de mil seguidores no Twitter, não me faz um especialista no assunto. Assim como o fato do Tarcísio Meira ter feito dezenas de novelas não o faz um especialista em televisão.
Eu sou apenas uma pessoa que usa bastante as redes sociais para fins pessoais e profissionais. Não me julgo, não pretendo, nem nunca disse que sou um especialista no assunto.
Mas isso não me impede de emitir uma opinião, baseada em meus mais de 20 anos de carreira em publicidade, 16 deles na publicidade online: o mercado de social media no Brasil precisa mais do que nunca de profissionais e não de sobrinhos.
Sim, sobrinhos, este personagem que assola o mercado de internet desde os seus primórdios.
“Precisamos fazer um site!”
“Chefe, tenho um sobrinho que é bom nessa coisa de internet”.
Lembrou?
“Nosso site não aparece no Google!”
“Chefe, tenho um sobrinho que é bom nessa coisa de internet”.
Conhece esse?
“Precisamos de uma página no Facebook e de um perfil no Twitter!”
“Chefe, tenho…”
Entra ano, sai ano e os sobrinhos continuam por aí, assombrando as empresas.
Sobrinho, caia na real: o fato de você ter entre 18 a 25 anos e ter muitos amigos no Facebook e Twitter, não te faz um especialista em redes sociais. Muito menos um consultor.
Aliás, quem tem de cair na real são as empresas que, em sua maioria, ainda estão contratando sobrinhos, netos, primos e similares para cuidar de sua imagem e comunicação nestes ambientes. Quando na verdade, elas deveriam estar buscando profissionais de comunicação, publicidade, relações públicas e afins.
Durante alguns meses tive entre meus clientes uma empresa norte-americana da área de social media. Ela recentemente foi vendida por estimados 300 milhões de dólares a uma grande corporação. O serviço que eles prestam é algo que as empresas brasileiras com mais fãs no Facebook e seguidores no Twitter ainda não adotou. Aqui só se fala em comprar campanhas no Facebook e acompanhar o que estão dizendo sobre você no Twitter. Mas a gestão do conteúdo ainda é feita de forma manual, arcaica e sem uniformidade na estratégia, o que proporcionaria métricas mais eficientes.
Poucas semanas depois deste meu cliente ter sido vendido, seu maior concorrente foi adquirido por outra empresa por 689 milhões de dólares. Ambas transações saíram no AdAge, no Business Insider e em diversos sites especializados, tanto de publicidade como de tecnologia. Mas nem uma linha em nossos grandes veículos.
Enquanto o brasileiro ainda se preocupa em oferecer desconto pra conseguir mais fãs no Facebook e seguidores no Twitter, as empresas norte-americanas falam de engajamento e construção de marca.
Por aqui, o gerenciamento ainda é feito de forma manual, site a site; nos EUA a estratégia é pensar todas as redes sociais de forma coordenada e com a garantia de que o acesso ao conteúdo será perfeito via qualquer plataforma.
No Brasil, a presença das empresas em redes sociais ainda é vista como novidade e os veículos do tradecolaboram, ao noticiar que tal empresa agora tem página no Facebook (desde quando isso é notícia?). Nos EUA, as empresas já pensam em ROI, pois presença nas redes sociais é obrigatória e deixou de ser novidade faz tempo.
Enquanto lá eles usam uma plataforma para o gerenciamento eficiente, aqui a maioria ainda usa sobrinhos.
Biz Stone disse em um evento: “Eu criei o Twitter, mas não sou especialista em social media”.
E você aí se achando, né Sobrinho?
*Marcelo Sant’Iago é sócio da MBreak Comunicação, especialista em mídia interativa e presta assessoria a empresas interessadas em expandir seus negócios no meio online.
(texto publicado na revista ProXXIma de julho/12)
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