ADVOCACIA TIK TOK
Por ANDRÉ PORTO ALEGRE, publicitário, CEO da Law Consulting, empresa especializada em comunicação de escritórios de advocacia. É diretor da APP, membro do Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária, CONAR e autor do livro A Trajetória de um Publicitário Comum.
O advogado Anthony Barbuto, sócio do escritório Barbuto Law (barbutolaw.com) e do Barbuto & Johansson (barjolaw.com), ambos com sede em Wellington, na Flórida, possuí 1,2 milhão de seguidores em sua conta no aplicativo TikTok e seus vídeos receberam 35 milhões de curtidas na plataforma, que é a sensação do momento entre os jovens do mundo inteiro, com, aproximadamente, 800 milhões de usuários.
Conhecido na rede como @thelawyer, Barbuto é considerado pelo TikTok um Criador Popular, o que lhe confere a possibilidade de promover parcerias com outros astros e, dessa forma, potencializar os conteúdos publicados.
O sucesso do advogado americano é resultado do contraste de ver um advogado dançando e dublando raps em seu escritório de advocacia. Segundo Barbuto a advocacia é uma das profissões mais criticadas e para combater isso, através de seus vídeos, Anthony demonstra que os advogados podem de fato ser saudáveis, apaixonados e de coração leve, mesmo no local de trabalho.
Anthony Barbuto desafia os estereótipos tradicionais dos advogados injetando seus vídeos com humor, verve e diversão. “Recebo inúmeras mensagens dos fãs diariamente compartilhando seus objetivos de carreira jurídica ou expressando como eu os ajudei através de meus vídeos de uma forma ou de outra. Veremos cada vez mais advogados e profissionais aproveitarem os muitos benefícios que o Tik Tok tem a oferecer”, afirma.
NÃO É BEM ASSIM
Os 1.247 advogados do Ropes & Gray, com sede em Boston, fundado em 1865, 13° maior escritório dos Estados Unidos, com receita bruta na ordem de 1,9 bilhão de dólares em 2019, foram proibidos de usar o TikTok em dispositivos que recebem e-mails de trabalho após alertas de clientes sobre a segurança das informações.
A segurança cibernética tornou-se um desafio para os escritórios de advocacia, à medida que os advogados e colaboradores continuam a trabalhar em casa por causa da pandemia. Pesquisa recente mostrou que quase dois terços (63%) de funcionários legais domésticos estão armazenando arquivos em seus próprios dispositivos, causando preocupações sobre a segurança dos dados, enquanto 3% admitiram que o computador usado para trabalho remoto não é protegido por senha.
Mesmo que na esfera das preocupações com a segurança dos dados dos clientes, não convém desvincular a medida do centenário escritório americano do aspecto político, principalmente diante dos indícios que, desde o dia 30 de junho, os seguintes aplicativos teriam acessado os dados existentes na área de transferência dos celulares: Fox News, New York Times, Reuters, Vice News, Huffington Post, The Wall Street Journal, Fruit Ninja, Plants v. Ninja Heroes, Bed Bath & Beyond, Overstock, Accuweather, Zoosk entre outros. Porém não há sinal de que o Ropes & Gray esteja disposto a proibir o uso desses aplicativos por seus advogados e colaboradores.
Durante a preparação desse artigo, foi divulgado o interesse da americana Microsoft pela chinesa TikTok, que tem 45 dias para responder uma oferta estimada em 50 bilhões de dólares.
A REALIDADE EM PINDORAMA
Há dois aspectos que assumem relevância quando o debate migra para a advocacia exercida abaixo da linha do equador: o binômio, consagrado por Marshall McLuhan, o meio é a mensagem.
Segundo o filósofo canadense, o meio influencia a mensagem recebida, o que faz com que a mesma mensagem seja percebida de forma diferente a depender do meio, ou seja, de como ela é apresentada.
A maioria da advocacia nacional, opta por dispender meses na preparação de um artigo, recheá-lo de leis, revisá-lo diversas vezes, mendigar que o editor do jornal Valor Econômico ou do portal Jota leia o e-mail, promover novenas para que esse mesmo editor goste do artigo e fazer promessas para que o bendito editor publique o texto.
Passado esse calvário, a audiência do artigo será restrita aos exemplares físicos do jornal Valor Econômico, em média 60 mil por dia, pelo fato da plataforma digital do jornal e o portal Jota permitirem a leitura do seu conteúdo exclusivamente a um punhado de assinantes.
A MÍDIA PROPRIETÁRIA
Nesse cenário, cresce de relevância a adoção das mídias proprietárias pelos escritórios de advocacia, o que abrange o universo do YouTube, Linkedin, Facebook, Instagram, Twitter, TikTok, além de sites do escritório, entidades ou instituições.
A audiência das redes sociais no Brasil cresceu 26,2% em março de 2020, em comparação ao mesmo período de 2019, totalizando 43,3 bilhões de visitas, no período entre os dias 16 a 22 do mês. Um estrondoso consumo, capaz de sensibilizar e atrair o mais tradicional escritório de advocacia a investir em conteúdo para as redes.
Os advogados brasileiros não precisam se transformar em Anthony Barbuto e promover danças e raps de gosto duvidoso, mas não podem desprezar as plataformas digitais, pelo fato de não exercitarem pensar em um outro tipo de conteúdo, que não seja o artigo para publicação em jornal.
Cabe aos gestores legais, a administração do marketing dos escritórios e essa tarefa possuí dois desafios extras no Brasil: superar a autorreferência e a mesmice da comunicação.
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