ARTIGO: Tem gente que não quer sair do balde — e ainda te culpa por tentar
Tem empresa que fala de inovação, mas pune quem pensa diferente. Que diz valorizar gente, mas silencia quem questiona
* por Sílvio Soledade
A metáfora do caranguejo no balde pode parecer simples, mas explica com precisão o que a gente vive dentro de muitas organizações.
Um caranguejo sozinho tenta subir. Erra, escorrega, tenta de novo. Com esforço, sai do balde. Mas se tiver mais de um lá dentro, ninguém escapa. Quando um começa a subir, os outros puxam para baixo.
Essa imagem não é só sobre competitividade. É sobre ambientes tóxicos, onde o sucesso do outro incomoda. Onde o esforço alheio vira ameaça. Onde quem tenta mudar o jogo é visto como problema.
E aqui não tem vilão único. Às vezes é o líder que controla, que sufoca, que não quer ninguém brilhando mais que ele. Outras vezes é o liderado que sabota, que ironiza, que prefere ver o colega tropeçar do que ter que encarar o próprio comodismo.
Nas redes sociais isso fica escancarado. Basta ver os comentários em qualquer post que fale de “ambiente tóxico” ou “liderança destrutiva” — é uma avalanche de gente dizendo: “já passei por isso”, “tô vivendo isso agora”, “meu ex-chefe era assim”, “minha empresa diz que valoriza pessoas, mas ninguém pode discordar de nada”.
Tem desabafo, tem denúncia velada, tem pedido de socorro disfarçado de ironia. E isso diz muito. Diz que o problema é maior do que a gente imagina — e mais comum do que gostaríamos de admitir.
Tem empresa que fala de inovação, mas pune quem pensa diferente. Que diz valorizar gente, mas silencia quem questiona. Que prega a cultura colaborativa, mas premia comportamento predatório. É o famoso discurso bonito com prática pequena.
A toxicidade, nesses casos, não está numa pessoa só. Está no ar. Está no jeito como as decisões são tomadas, como as conversas são evitadas, como o medo vai sendo normalizado — e o talento, desperdiçado.
A verdade é que tem muito ambiente onde a regra é manter todo mundo quieto, igual e acomodado no fundo do balde. E se alguém tenta sair, lá vem a turma puxando de volta: “Quem você pensa que é?” “Vai dar errado.” “Sempre foi assim.”
Sabe o que é mais triste? Muita gente boa desiste. Não por falta de capacidade, mas por falta de ar.
Se você está num ambiente onde não pode crescer, falar, propor, errar e recomeçar — esse lugar não é só tóxico. Ele é limitante. Ele te impede de ser você. Ele te ensina a se anular.
E se você é quem está puxando alguém pra baixo — mesmo que seja por medo, vaidade ou insegurança — vale parar e pensar: que tipo de pessoa eu quero ser nesse sistema?
A gente precisa de mais gente que empurra para cima. Que vibra com a conquista do outro. Que cria espaços onde todos possam tentar, escalar, tropeçar e seguir.
Porque, no fim, o problema nunca foi o balde. O problema é quem decide viver puxando os outros pra baixo — e chama isso de cultura.
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