Artigo: Não faça do seu celular a sua melhor companhia
Desde que iniciei meus estudos em comunicação no início da faculdade, há 38 anos, enfrentamos continuamente o mesmo desafio: a publicidade sempre busca conquistar a sua atenção.
No Brasil, onde temos uma oferta constante de conteúdo de alta qualidade, os anúncios sempre precisam competir diretamente com o próprio conteúdo para se destacarem, enfrentando o desafio de cativar o público. A falta de um anúncio de qualidade implica, muitas vezes, depender apenas da repetição. Profissionais de mídia habilidosos buscam garantir o volume de exposição necessário para conquistar a atenção quando sabem que o comercial não é tão bom.
Hoje a informação chega até nós em nossos dispositivos móveis aonde quer que estejamos, e a grande diferença é que as redes sociais nos transformaram em produtores de conteúdo, ampliando em muito a exposição a novas informações o tempo todo.
Estudos que encontrei sobre a criação de volume de dados são antigos. Em 2010, estimativas apontavam que o Youtube recebia 500 horas de vídeo por minuto, o que equivale a 720.000 horas de vídeo por dia. Se imaginarmos que a duração média de um vídeo é de 4 minutos, isso significa que, naquela época, já se criava cerca de 180 mil vídeos novos diariamente. Imagine se atualizarmos os dados apenas com o material publicado no TikTok.
Nunca estivemos tão conectados.
Considere por quanto tempo você consegue ficar sem olhar para a tela do seu celular. Conhece pessoas que vivem alimentadas por cliques, pelos resultados de suas ações na rede? Eu, pessoalmente, conheço muitas.
Segundo a Anatel, num relatório de 2023, o Brasil contava com cerca de 240 milhões de linhas móveis. Um estudo de 2019, da consultoria inglesa Tecmar, revelou que as pessoas pegam em média seus celulares 221 vezes por dia. Encontrei um outro estudo da Dscout de 2018, que fala de 262 vezes por dia, e um da RescueTimede 2020 que aponta um número mais baixo de 80 vezes. Podemos considerar um intervalo entre 80 e 262 vezes ao dia; em qualquer uma das pontas, o número ainda é impressionante.
Estamos viciados em conexão.
As pessoas não conseguem se afastar de seus celulares. Observo indivíduos caminhando e conversando ao telefone, e o uso frequente de fones de ouvido criou uma categoria de pedestres que, apesar de aparentemente falarem sozinhos, estão, na verdade, interagindo enquanto se locomovem. Essa urgência absurda me preocupa, pois pode colocar vidas em risco.
Será que não podemos permitir pausas? Será que não é possível desviar o olhar da tela e apreciar o caminho e as pessoas ao nosso redor? A inundação de estímulos e informações pode gerar uma distração profunda, fazendo com que nem sempre estejamos presentes fisicamente nos locais onde estamos.
Embora a constante conexão possa ter vantagens em alguns casos, como assistir a filmes durante o transporte público ou manter contato por texto com amigos e familiares quando estamos sozinhos, os celulares frequentemente criam distração. Por isso, é crucial questionar: quem possui quem?
Eu tenho um celular, e ele me auxilia muito, mas ele não pode ser minha principal companhia. Gosto de observar o comportamento das pessoas, mas não compreendo a opção de conversar com alguém que não está presente, em vez de interagir com as pessoas ao redor.
Talvez o erro esteja em escolher as companhias inadequadas para almoçar ou em subestimar o valor da desconexão como algo relaxante. Durante o tempo de trabalho, o celular é uma ferramenta indispensável. No entanto, é importante aprender a se afastar dele nos momentos de descanso.
Se não for possível desligá-lo, ao menos deixe-o em outro cômodo da casa. Busque outras atividades ou simplesmente não faça nada. Já notou que, geralmente, quando alguém não tem nada para fazer, acaba consultando o seu telefone?
Atualmente, vejo pessoas sendo dominadas por seus celulares. Elas não são mais proprietárias de um dispositivo; na minha opinião, tornaram-se parte do sistema, escravas de algoritmos que usam seus interesses para alimentar a busca incessante por atenção.
Se me permite uma sugestão, limite o tempo que você fica com seu celular, desconecte-se sempre que puder. A vida fora da rede é muito interessante.
Desconecte-se um pouco na sua semana.
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Regi Andrade é publicitário e vendedor de ideias, atuou em diversas áreas de comunicação no mercado publicitário. Buscou sua especialização em Branding e no Esporte. Atualmente, ocupa a posição de diretor comercial da Máquina do Esporte, o principal hub de negócios esportivos do Brasil e é diretor de Educação e Desenvolvimento Profissional da APP Brasil.
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